Quem guarda os guardiões?
Numa altura em que crescem as manifestações de solidariedade e gratidão para com os profissionais de saúde, particularmente aqueles que se encontram na linha da frente, nunca será demais refletir sobre as consequências para a sua saúde desta batalha que travam por todos nós.
São fáceis de perceber os riscos físicos a que se expõem, nomeadamente num contexto de falta de adequado material de proteção, que aumenta o risco de infeção por SARS-CoV-2. A ilustrar isto, há quase duas semanas a Ordem dos Médicos já informava que cerca de 20% dos casos de COVID 19 eram Médicos... Não houve palmas à janela que lhes valessem!
Por todo o lado, chovem relatos de profissionais de saúde de várias classes (Médicos, Enfermeiros, Técnicos Superiores de Saúde, Assistentes Operacionais...) que não têm ao seu dispor os equipamentos de proteção individual necessários para garantir a sua segurança, tentando a todo o custo obtê-los fora das instituições e, muitas vezes, sem qualquer apoio financeiro.
Mas, como este é um blogue de saúde mental, seria também de esperar uma chamada de atenção para as consequências que esta pandemia terá na sua saúde mental.
O cansaço, decorrente de horários de trabalho alargados (para compensar o aumento da afluência aos serviços e a falta dos profissionais que estão já em casa, doentes ou em isolamento profilático), o afastamento das famílias (que fazem voluntariamente, tal é o medo de contagiarem os conviventes) o constante medo de contaminação e o confronto diário com a fragilidade da vida humana e , num futuro próximo, a necessidade de tomarem decisões de vida ou morte - sim, porque se em Itália e Espanha já se pratica Medicina de catástrofe, escolhendo-se quem vive e quem morre, por cá não estaremos já muito longe desse cenário, infelizmente - levarão certamente a estados de exaustão emocional e sofrimento psicológico sem precedentes.
Neste sentido, cabe aos serviços de Psicologia e de Psiquiatria e Saúde Mental, um papel primordial no apoio aos profissionais de Saúde. Vários Centros Hospitalares anunciaram já iniciativas que visam prestar este apoio aos seus profissionais. No entanto, por vezes é mais fácil falar de sentimentos e expormos as nossas fragilidades com pessoas com quem não contactamos diretamente e cujos rostos não vemos nos corredores diariamente.
Assim, fica aqui novamente divulgada uma iniciativa que conta já com a colaboração de cerca de 200 Psiquiatras de todo o país e que visa utilizar a telemedicina para chegar a todos os profissionais de saúde, que tenham necessidade de uma consulta de Psiquiatria. Todos os interessados podem inscrever-se e obter mais informação em www.p5.pt/apoio. Ser-lhes-á agenda uma consulta de telemedicina, com um Médico Psiquiatra voluntário, em horário que seja conveniente para ambos.
De igual modo, os Psiquiatras voluntários poderão registar o seu interesse em www.p5.pt/voluntario. Para mais informações pode também ser usado o contacto de email cuidar@p5.pt.
Se juntos somos mais fortes, vamos também cuidar de quem cuida! Porque nesta luta NÃO HÁ HEROIS!
Lídia Sousa