Perturbação Obsessivo Compulsiva em Tempos de Pandemia - um guia para clínicos
17.04.20
Em tempos difíceis como aqueles que vivemos hoje, é possível que as pessoas que sofrem de doença psiquiátrica sintam um agravamentos dos seus sintomas e tenham também mais dificuldade em obter os cuidados de saúde habituais. As pessoas com doença obsessivo-compulsiva encontram-se numa situação de particular vulnerabilidade pelo que o Colégio Internacional da Perturbação Obsessivo Compulsiva (ICOCS) e o Obsessive-Compulsive Research Network (OCRN) of the European College of Neuropsychopharmacology elaboraram um documento de consenso sobre as melhores práticas clínicas em tempo de COVID-19. Resumimos aqui os principais pontos:
- Adoptar uma abordagem tranquilizadora e empática. O impacto da pandemia é muito variável em diferentes regiões do mundo;
- Realizar uma cuidadosa colheita da história clínica no sentido de confirmar o diagnóstico. Nesta situação pandémica, as pessoas podem experienciar o agravamento/reativação de doenças prévias ou o desenvolvimento de sintomatologia de novo; deve ser dada particular atenção às comorbilidades neste período;
- Deve avaliar-se o risco de suicídio, nomeadamente em pessoas com comorbilidades;
- Deve ser disponibilizada psicoeducação acerca dos riscos e impactos da COVID-19 na saúde física e mental;
- Avaliar o uso de internet e o consumo de notícias; deve promover-se hábitos equilibrados (30 minutos de amnhã e 30 minutos à noite) para estar informado acerca da pandemia; devem sugerir-se fontes válidas para evitar mitos, rumores e desinformação;
- Se a Perturbação Obsessivo-Compulsiva for o problema de saúde principal sugere-se:
- Rever a medicação (SSRI 1, depois SSRI 2, depois adicionar Clomipramina, sempre em doses terapêuticas); considerar antipsicótico em baixa dose; assegurar que existe uma boa adesão; gerir problemas de sono.
- Rever o plano de psicoterapia cognitivo-comportamental; na fase pandémia pode verificar-se a necessidade de suspender temporariamente a Terapia de Exposição e Prevenção de Resposta.
- Pode verificar-se a necessidade de adiar a implementação de estimulação cerebral profunda.
- Recomenda-se a implementação de planos sócio-ocupacionais que incluam a prática diária de exercício físico.
- Deve ser dado suporte aos familiares das pessoas com doença sempre que necessário.