Noticiar suicídios: vamos lá pela enésima vez.
A conversa não é nova mas, pelos vistos, continua a ser necessária. Façamos, então, uma revisão da matéria dada.
Fui desenterrar dois pequenos posts publicados por mim e pelo Pedro no Jugular e no Obsessivamente há já muito, muito tempo. Leiam-nos, por favor, senhores jornalistas. Nesta altura, mais que nunca, apelamos à ÉTICA, à DEONTOLOGIA e, sobretudo, à DECÊNCIA.
I. O suicídio é um comportamento multideterminado cujas inferências causais devem ser tratadas com imenso cuidado dadas as possíveis consequências nefastas e, até, trágicas.
Há, contudo, três certezas que podem e devem ser conhecidas e difundidas:
1. Na maioria dos casos há patologia psiquiátrica prévia.
2. Na escolha do método o “mais à mão” assume primordial importância.
3. Conhecido na literatura científica como “Efeito Werther”, designa a imitação de suicídios. Este efeito “mimético” existe e é um fator que importa prevenir.
“Imitação é o processo pelo qual um suicida exerce um efeito modelador em suicídios subseqüentes. Clusters (agrupamentos) refere-se ao número de suicídios que ocorrem em estreita proximidade temporal e/ou geográfica, com ou sem qualquer ligação direta. Contágio é o processo pelo qual um determinado suicídio facilita a ocorrência de outros suicídios, a despeito do conhecimento direto ou indireto do suicídio prévio.” (Daqui, da OMS, feito em 2000).
II. (...) O suicídio é um problema de saúde pública, quase sempre relacionado com um intenso sofrimento e com situações de doença mental, que tem consequências sociais demasiado graves para que possa ser tratado com qualquer leveza. Desde a história do jovem Werther que se sabe que a divulgação descuidada das mortes por suicídio pode ocasionar um aumento do número de suicídios. Nunca é demais recordar os jornalistas, os directores dos órgãos de comunicação social e a própria ERC que as normas da OMS dão particular ênfase ao seguinte:
- Trabalhar em conjunto com autoridades de saúde na apresentação dos factos.
- Referir-se ao suicídio como suicídio “consumado”, não como suicídio “bem sucedido”.
- Apresentar somente dados relevantes, em páginas internas de veículos impressos.
- Destacar as alternativas ao suicídio.
- Fornecer informações sobre números de telefones e endereços de grupos de apoio e serviços onde se possa obter ajuda
- Mostrar indicadores de risco e sinais de alerta sobre comportamento suicida
- Não publicar fotografias do falecido ou cartas suicidas.
- Não informar detalhes específicos do método utilizado.
- Não fornecer explicações simplistas.
- Não glorificar o suicídio ou fazer sensacionalismo sobre o caso.
- Não usar estereótipos religiosos ou culturais.
- Não atribuir culpas.
Custa assim tanto perceber, caramba?
Ana Matos Pires