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Psicovid19

Saúde mental em tempos de pandemia

Psicovid19

Saúde mental em tempos de pandemia

Associativismo em Tempos de Pandemia

31.03.20
"They are casting their problems at society. And, you know, there's no such thing as society…” 

Margaret Thatcher, Revista “Women's Own”,1987

Arriscar-nos-íamos a dizer que, volvidas algumas semanas desde o início deste período de excepção nas nossas vidas, o momento que enfrentamos presta-se a, de uma penada, nos permitir desmentir cabalmente a Srª Thatcher.

Sem uma sociedade manifesta por uma rede colaborativa e comunitária, em que a realidade do outro é colocada a par da nossa, sem um movimento global de empatia, não estaríamos nunca em condições de enfrentar este desafio.

Dentro de todos os atores responsáveis por esta mobilização ímpar, gostaria hoje de destacar o papel dos movimentos associativos. Pelo seu surgimento súbito, colocando em causa os paradigmas de eficiência previamente vigentes, a pandemia de COVID-19 obrigou as estruturas centrais a uma mobilização sem precedentes, dirigida ao combate a esta doença e a tudo o que esta implica, reconhecendo por vezes gorada a sua capacidade em corresponder a todas as solicitações. No terreno a organização de todos em torno de objetivos comuns, materializada, entre outros projetos, em associações (mais ou menos antigas, mais ou menos estruturadas, mas sempre envolvidas e ativas) procura assegurar respostas rápidas, orientadas e ajustadas a múltiplas realidades, aprofundando algo que não pode deixar de ser repetido: não se vence uma pandemia sozinho.

A Associação Portuguesa de Internos de Psiquiatria, cuja acção pretendemos focar, remonta ao ano de 2005, quando um grupo de médicos internos em Psiquiatria decidiu unir-se em torno de uma causa comum, a defesa da formação em Psiquiatria no nosso país. Desde então, várias têm sido as actividades levadas a cabo pela nossa associação, desde eventos de uma enorme qualidade científica, participação social e defesa acérrima da qualidade formativa do internato em Psiquiatria, que têm contribuído para o seu reconhecimento actual na área da saúde mental e no papel representativo de mais de 300 médicos internos. A este crescimento foi essencial a construção de pontes com outros importantes interlocutores na área – Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Ordem dos Médicos, Plano Nacional de Saúde Mental ou até, mais recentemente, da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, relevando o desejo de um trabalho colaborativo em Psiquiatria.

Esta atitude colaborativa permitiu-nos chegar aos dias de hoje com uma visão estratégica de como nos deveríamos colocar na resposta a este flagelo. Em primeiro lugar, procurámos garantir junto da Ordem dos Médicos e da Administração Central dos Serviços de Saúde, respostas às múltiplas questões que se colocavam numa altura de mudança abrupta do quotidiano dos estágios formativos. Assegurada a urgência de compreender a situação formativa dos internos de Psiquiatria, voltámo-nos para a participação na intervenção em saúde mental durante este período. Contactámos e fomos contactados por diversas estruturas, colaborámos com a Universidade do Minho para prestar apoio psicológico a profissionais de saúde (disponível aqui), com a Administração Regional de Saúde-LVT, Hospital Fernando da Fonseca, Direcção Geral de Saúde e Plano Nacional de Saúde Mental na divulgação de material informativo para profissionais de saúde e público em geral (disponível aqui); Aliámo-nos a designers que, voluntariamente, nos ajudaram no desenvolvimento de material de divulgação relativo a formas de combater o stress durante a pandemia (pode encontra-lo aqui); Juntámo-nos aos restantes autores deste blog para fazer chegar a mais gente informação sólida e útil; Mantemos contacto com os principais responsáveis na área da saúde mental para ajudar os internos de Psiquiatria e os Serviços Locais de Saúde Mental da melhor forma que conseguimos. Mais do que isto, fomos solicitados por inúmeras entidades e colegas para podermos estar presentes em cada momento de um processo que para todos é confuso e desafiante, e nada nos poderia deixar mais orgulhosos de todos quanto connosco têm participado desta luta. Importa ressalvar também que, numa altura de multiplicidade de iniciativas e actores, promovemos sempre a acção conjunta e estruturada, evitando duplicação de recursos e de mensagens, procurando concertar esforços na importante mensagem a passar, na promoção da saúde mental de todos.

Como a nossa Associação existem inúmeras, focadas nas suas respetivas áreas de intervenção mas permanentemente ligadas entre si, partilhando dificuldades, ideias, soluções, problemas, no fundo, partilhando o peso deste desafio que carregaremos todos até ao seu desenlace.

E é esta uma das razões pelas quais guardamos uma boa dose de otimismo nestes dias. A cooperação em torno de um objetivo comum, que tece uma fina malha em permanente adaptação a novas realidades.

Muitos de nós, médicos, serão chamados para a linha da frente por estes dias. Vai ser necessário muito suor, um pouco de sangue e algumas lágrimas, dizem.

Neste campo de batalha, valha-nos o planeamento estratégico e a cooperação.

Valham-nos os objectivos comuns e a comunicação eficaz.

Valha-nos o associativismo.

 

Pedro Frias e Diogo Almeida – Associação Portuguesa de Internos de Psiquiatria