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Psicovid19

Saúde mental em tempos de pandemia

Psicovid19

Saúde mental em tempos de pandemia

Porque informar e estar informado é fundamental

25.03.20

Parece-me importante deixar aqui uma pequena nota informativa, resumida, sobre a ação dos Serviços Locais de Saúde Mental do país.

Em todas as Administrações Regionais de Saúde (ARS) - são cinco no país, Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve - existe um Coordenador Regional da Saúde Mental.

Na sequência dos incêndios de 2017 foi publicado,  pelo Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, o Despacho 7059/2018 que "Determina o modelo de respostas de saúde mental no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e no âmbito do Sistema Integrado de Emergência Médica a implementar em caso de acidente grave ou catástrofe".

Citando o articulado legal "Pretende-se assim, através do presente despacho, estabelecer uma estratégia de integração de saúde mental em caso de acidente grave ou catástrofe, que constitua um referencial aplicável a todas as situações deste tipo, independentemente da sua natureza e localização geográfica e que reflita uma adequada integração da resposta em saúde mental no quadro do Sistema de Gestão de Operações" e continua "O modelo de respostas de saúde mental no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e no âmbito do Sistema Integrado de Emergência Médica a implementar em caso de acidente grave ou catástrofe, tem as seguintes características:

a) É integrado na resposta geral à emergência médica;

b) É dotado de uma estrutura com sucessivos patamares de resposta;

c) Tem níveis de coordenação claramente identificados;

d) Tem um mecanismo linear de articulação, desde a fase inicial até aos serviços especializados, que se traduz no fluxograma descrito no anexo ao presente despacho, do qual faz parte integrante;

e) Assenta, em termos de prevalência antecipável das perturbações, nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), em articulação com os Serviços Locais de Saúde Mental (SLSM).".

Para a sua operacionalização o Programa Nacional para a Saúde Mental (PNSM) da DGS promoveu uma formação em cascata, na qual estiveram implicados os Coordenadores Regionais. 

Para conhecimento público - porque estar informado das estratégias de saúde é uma maneira, acredito eu, de melhorar a literacia em saúde e, por conseguinte, de se usarem os recursos da melhor maneira e na sua plenitude - quero informar-vos que, na sequência da atual pandemia COVID-19, todos os Coordenadores Regionais ativaram o Despacho 7059/2018 nas suas áreas de abrangência e que os SLSM iniciaram a sua aplicação no terreno, em estreita colaboração, como previsto, com os CSP.

Para além da disseminação da formação em primeiros cuidados psicológicos, através de um modelo validado pela OMS e pelo PNSM - que neste momento já está a ser feita em diferentes locais junto das autarquias, para além das estruturas de saúde - está também a ser implementada nas diferentes instituições do SNS uma resposta de apoio aos profissionais de saúde.

As respostas de proximidade são o objetivo de um SNS que se quer equitativo e justo. É esse o propósito do que já está no terreno e que vamos continuar a desenvolver, de modo articulado e generalizado a todo país. Fica a informação.

 

PS: À laia de aviso à gente da psiquiatria e da saúde mental aqui fica uma citação do Miguel Palma, psiquiatra dos Médicos Sem Fronteiras que também está no Saúde Mental em Tempos de Pandemia (obrigada, Miguel):  O que estamos a passar não é um sprint; é uma maratona” (OMS, 12 de Março 2020). Quem presta cuidados de saúde mental também se encontra em risco elevado de ter reacções de stress. As mesmas regras de autocuidado e apoio de pares/ intervisão /supervisão devem ser reforçadas, dado o risco de trauma vicariante. É também um sinal da relevância da intervenção e, para que se possa continuar a prestar estes cuidados de extrema importância, é preciso manter a saúde física e mental dos prestadores.” 

Ana Matos Pires

 

 

A primeira tarefa

25.03.20

Por estes dias, a evolução da pandemia pela Covid-19, com a sua contabilidade diária de infetados e mortos, deixa-nos de coração nas mãos. Cada um de nós tem que garantir várias tarefas: cuidar de si e dos seus, manter rotinas, focar na informação relevante e fidedigna, manter contactos sociais; e trabalhar, cuidando de quem já acompanhávamos e de quem agora precisa de apoio. Os nossos serviços de Psiquiatria e Saúde Mental adaptam-se a esta fase de novas rotinas de trabalho, sem saber como será o dia de amanhã. Espera-se que a pandemia venha a ter um impacto muito significativo na saúde mental, como todas as emergências têm. É intuitivo o impacto que terá ao nível das perturbações mentais comuns (ansiedade e depressão), já que cada um de nós vive e sente estarmos coletivamente à beira de um ataque de nervos.

Mas, no imediato, é fundamental que nos preocupemos, profissionais de saúde mental, serviços e sociedade, e nos organizemos para a prestação de cuidados a quem tem uma perturbação mental grave (psicoses). São as pessoas mais vulneráveis da nossa sociedade, esquecidas, estigmatizadas, durante séculos escondidas e maltratadas. São as pessoas mais fortemente atingidas por qualquer contração da economia, por viverem sempre em difícil situação económica. São pessoas que precisam de uma rede social de apoio e que, isoladas, sem poderem frequentar os espaços que diariamente utilizam e sem poderem aceder aos cuidados habituais, enfrentarão um enorme agravamento das dificuldades que já sentem em vários níveis da sua vida. São pessoas cujo tratamento e estado clínico assenta num equilíbrio frágil e continuamente trabalhado, consulta a consulta, visita domiciliária a visita domiciliária, pelas caraterísticas da sua doença e por dificuldades de acesso, já que, no nosso país, 33,6% das pessoas com perturbação psiquiátrica grave não recebe qualquer tipo de tratamento .

Por isso, foquemo-nos: a curto prazo, a nossa prioridade tem que ser organizar os cuidados para quem tem uma doença mental grave. Em cada serviço, ter uma lista de quem são, da medicação que fazem, dos apoios que têm e de que precisam. Contactá-los com frequência para reduzir o isolamento social e para avaliar como estão. Assegurar que têm a medicação necessária e que se mantêm os circuitos de disponibilização de medicação. Estar atento à rede de outros apoios na comunidade de que precisam, essenciais no seu dia-a-dia.

Vão ser tempos de enorme desgaste e incerteza, mas em que temos que ir buscar o melhor de nós e respostas novas para cuidarmos uns dos outros e não deixarmos ninguém para trás.

 

Manuela Silva

Construir uma Saúde Mental melhor

25.03.20

“O coronavírus, mesmo que implique um isolamento sem precedentes e “distanciamento social”, oferece a possibilidade de construir um mundo melhor” – Srećko Horvat , in shifter.

O tempo de isolamento configura um lugar de “introspeção forçada”. Separados do nosso quotidiano e de muitos (ou todos) dos nossos amigos e familiares, obrigados a uma súbita reorganização da nossa vida, somos colocados de frente connosco mesmos e com o futuro que enfrentamos. Também para as estruturas de Saúde este tempo de suspensão e reorganização deve ser oportunidade para repensar o presente e preparar o futuro.

Vivemos, sobretudo, um tempo volátil, pautado por medo, tristeza e ansiedade, emoções normais em face de um futuro que se suspende subitamente e em cujo lugar cabe apenas a incerteza. A esta incerteza junta-se uma diminuição na percepção de segurança, bem como os efeitos previsíveis do isolamento. Um artigo de revisão publicado na revista Lancet em 2020, focado em períodos de Quarentena, identifica vários stressores durante (duração da mesma, medo de estar infetado, frustração e tédio, desadequação de informação) e após a Quarentena (sobretudo relacionados com problemas financeiros decorrentes do isolamento forçado e com o estigma). Este período poderá previsivelmente associar-se ao aumento de perturbações depressivas, ansiosas e outras (nomeadamente o abuso de substâncias, mais prevalente em Homens em períodos pós-catástrofe) na população geral, e assistir a um agravamento das patologias de base de doentes que veêm o seu acompanhamento suspenso pelas medidas de excepção em vigor (à semelhança do que se observa em outras áreas da Saúde).

Muito está já a ser feito para diminuir esta distância entre os cuidados de saúde e os doentes acompanhados, mas o facto de este período de isolamento ter abrangência Nacional coloca à Saúde Mental um enorme desafio: como poderemos ajudar a população no final deste período de excepção ?

Sendo sabido que a exposição a stressores se estende a praticamente todos os elementos da sociedade, a adopção de uma resposta universal terá que ser necessariamente posta em questão, não descurando a identificação daqueles que configuram grupos de especial risco. Por serem previsiveis consequências a nível da saúde mental de uma grande parte da comunidade, na sua dimensão macro e micro,as soluções devem ser encontradas e exploradas a um nível local, colaborativo e comunitário.

Apenas através de estruturas de Saúde Mental Comunitária fortalecidas, em estreita ligação com os Cuidados de Saúde Primários e restantes estruturas implementadas na comunidade, podemos ser capazes de identificar em cada local os individuos em situação de maior risco e preparar uma resposta robusta com intervenções baseadas na evidência, coordenadas centralmente e capazes de atuar de forma rápida e a nível local.

Os recentes Programas Nacionais de Saúde Mental prevêm um reforço da Psiquiatria Comunitária a ter lugar nos anos que se avizinham. Esta deve ser uma parte central do Serviço Publico de Saúde, e será a chave para a instalação de respostas rápidas, eficazes e orientadas pelas idiossincrasias de cada comunidade aos problemas que se anteveem. Para que isso aconteça é preciso que seja dotada de fundos e meios humanos que lhe permitam exercer a sua função e robustecer a sua rede e este é o momento ideal para interpelar quem de direito nesse sentido.

Numa altura em que todo o país se encontra centrado no problema do presente cabe a todos nós pensar também nos combates futuros e lutar pela transformação e fortalecimento dos Serviços de Saúde Mental.

Pedro Frias 

 

Orgulhosa, muito orgulhosa. E comovida.

24.03.20

Muito orgulhosa na capacidade de reorganização dos Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental do SNS, muito.

Sou Coordenadora Regional da Saúde Mental da ARS Alentejo, uma zona de precariedade absoluta no que aos Recursos Humanos diz respeito. A qualidade, a disponibilidade, a capacidade de trabalho e de mobilização das equipas e a criatividade das soluções encontradas estão para lá do que consigo descrever por palavras.

Obrigada, camaradas.

Viva o SNS.

Ana Matos Pires

 

Informar é Cuidar: Como falar com os mais idosos sobre a Covid 19

24.03.20

Está bem documentado que a infeção pelo vírus SARS-CoV-2, resultando na doença Covid 19, tem consequências mais graves na população idosa e com doenças crónicas, sendo a taxa de mortalidade muito superior à das crianças e dos adultos jovens e saudáveis.

Muitos de nós temos pais e/ou avós dentro desta faixa etária de risco que é urgente protegermos! Contudo, fazer-lhes chegar a informação que lhes pode salvar a vida, de uma forma efetiva, pode não ser assim tão fácil... Acostumados a cuidar dos filhos e/ou netos e a serem uma fonte importante de informações e recomendações, pela sua maior experiência de vida, é-lhe por vezes difícil aceitar as “imposições” que lhes tentamos colocar em tempos de pandemia.

E se os mais novos “absorvem” a informação através dos media e redes sociais a uma velocidade estonteante, esta franja da população está muito mais isolada, desinformada e consequentemente mais desequipada, no que respeita à prevenção da infeção.

Por outro lado, importa também salientar que, para além da maior vulnerabilidade física, que se traduz em taxas mais baixas de recuperação desta doença, os idosos são também particularmente vulneráveis aos efeitos psicológicos de eventos traumáticos, como os que surgem no contexto de uma pandemia. Maior isolamento, restrições às suas liberdades e autonomia, não suprimento de necessidades básicas, morte de entes queridos e pares, entre outros, são fatores de risco específicos desta faixa etária, para o desenvolvimento de sofrimento psicológico e patologias mentais.

Então como poderemos chegar até eles, fazendo-os ver que medidas como o isolamento social profilático são essências?

Ficam aqui algumas recomendações, com base empírica, que poderão ser muito úteis.

Devem ser interpretadas com espírito crítico e colocadas em prática de forma individualizada, de acordo com as caraterísticas de base dos nossos familiares, que bem conhecemos. A capacidade de nos pormos no lugar do outro e de avaliarmos a capacidade e o nível de compreensão de quem visamos será sempre, de resto, fundamental.

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O medo de contaminação

24.03.20

Numa situação inédita como a que vivemos actualmente, em que o stress é imenso e omnipresente, os danos colaterais na nossa saúde mental são expectáveis e inevitáveis. Apesar de sabido que aqueles com história prévia de patologia psiquiátrica se encontram em risco acrescido, todas as pessoas - independentemente do status, profissão, género, religião ou etnia - devem ter, agora, especial cuidado com a sua saúde mental.

Neste período em que nos vemos confinados aos nossos lares, uma parte significativa da nossa atenção está focada nas estratégias necessárias para evitar o contágio por SARS-CoV-2.  Neste contexto, é possível que rotinas como as relacionadas com a higiene, passem a ser realizadas de uma forma mais pensada, atentiva e cuidadosa. 

De facto, viver um quotidiano pautado pela constante preocupação com determinados comportamentos – como a frequente e exaustiva lavagem das mãos, a desinfecção dos espaços, a quase ausência propositada de contacto físico e o evitamento activo do manuseamento de objectos em locais como supermercados, bombas de gasolina ou farmácias – faz-nos pensar naqueles que, no contexto da sua doença psiquiátrica, vivem o seu normal dia-a-dia em torno destas mesmas preocupações e comportamentos.

Exemplo clássico é a perturbação obsessivo-compulsiva (POC), que se caracteriza por obsessões - pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes, que são vividos com desconforto - e compulsões – comportamentos repetitivos que tendem a aliviar ou suprimir estes pensamentos. Entre as compulsões mais frequentes encontram-se as de limpeza, por medo de contaminação (por microrganismos causadores de doença, por exemplo). 

Deste modo, é normal que quem vivencia estas experiências tenha maior dificuldade em lidar com a necessidade quase constante da lavagem das mãos, com o medo de contaminação e com o receio de prejudicar o outro. A par com a estas crescentes preocupações, poderão surgir (ou crescer) sentimentos de culpa com o incumprimento dos rituais de limpeza, associados à crença de que tal resultará, inevitavelmente, na contaminação do próprio ou dos familiares.

Estas preocupações podem tomar proporções de tal forma angustiantes e incapacitantes ao ponto de interferir com a funcionalidade da pessoa em questão, ou até mesmo do seio familiar.

Assim, a MIND elaborou algumas estratégias que poderão ajudar na gestão da ansiedade associada ao processo de lavagem das mãos:

- Não estar constantemente a ler e a pesquisar sobre as recomendações de higienização, se isso for causador de stress;

- Estabelecer limites como, por exemplo, não lavar as mãos durante um período superior ao recomendado (20 segundos);

- Falar com as pessoas próximas sobre estas preocupações e pedir-lhes, por exemplo, que evitem recordar constantemente a importância da lavagem das mãos;

- Fazer exercícios de respiração (explicados no vídeo que se segue) em momentos de maior ansiedade; 

- Planear algo para imediatamente depois de lavar as mãos, de forma a criar uma distração e a mudar o foco.

 

Deixo aqui 8 dicas de relaxamento que poderão ser úteis na gestão da ansiedade:

 

Se sentir que não consegue gerir o mal-estar associado a estes pensamentos, se estas preocupações estiverem a dominar o seu dia e  a impedir o seu normal funcionamento (adaptado, claro, à situação de isolamento), ou se sentir que perdeu o controlo dos rituais de limpeza, deverá pedir apoio junto do seu médico de família, psiquiatra ou psicólogo assistente - sempre por via telefónica

 

Mafalda Corvacho

 

A Medicina como uma Ciência Social

24.03.20

“Those who cannot remember the past are condemned to repeat it.”
(George Santayana, 1905)

A actual pandemia Covid-19, como outros grandes desafios à humanidade, é um convite a reflexão colectiva. Não será agora o momento mais oportuno, mas, mais cedo do que tarde, um conjunto de perguntas necessitará de resposta: "Como chegámos aqui"; "O que poderemos fazer para prevenir situações semelhantes"; e, talvez a mais importante, "O que nos mostra a História sobre isto".

Aos profissionais de saúde e outros ligados às ciências da vida não será estranho o nome de Rudolf Virchow: médico alemão do século XIX, pioneiro da patologia, entre muitos outros contributos. Talvez o seu mais importante legado tenha sido a afirmação da Medicina como uma Ciência Social. Em 1847-8 deslocou-se em missão a um território prussiano, a Silésia do Norte, para estudar um surto de tifo epidémico (doença que, até 1950, causou óbitos em Portugal). Verificando as condições de insalubridade em que vivia a maioria da população, as conclusões do seu relatório foram cristalinas, embora à data polémicas: "...a resposta para a prevenção de futuros surtos nesta região é bastante simples: educação, em conjunto com as suas filhas, a liberdade e o bem-estar social."

Só ficará surpreendido por esta pandemia quem opte por ignorar a pressão da espécie humana sobre o planeta em que vive, ou queira minimizar a estreita relação entre anormal distribuição de riqueza e saúde das populações, bem como a clivagem social que daí decorre, com consequências negativas sobre a própria democracia. Resta-nos, nos próximos tempos, um esforço social colectivo para que o Covid-19 seja uma "inoculação" com menos "efeitos secundários" que outras pandemias da história recente da humanidade, e esperar que algumas das lições que ele deixará perdurem na memória, não apenas imunológica, mas colectiva.

 

Nuno Madeira

 

Promover a Saúde Mental em Tempos de Pandemia – as recomendações da OMS

23.03.20

Num momento em que a COVID-19 foi declarada como pandémica e o governo declarou estado de alerta, é natural um aumento dos níveis de stress e ansiedade da população. Esta é uma fase em que a saúde mental não pode ser desvalorizada e em que devemos continuar a prestar atenção e cuidados a quem sofre de doença psiquiátrica. Para promover a saúde mental, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu recomendações que adaptamos para neste texto.

Em primeiro, importa salientar que a COVID-19 não é exclusiva de nenhuma etnia ou nacionalidade. É preciso ajudar quem foi afetado pela doença ou está de quarentena, sem qualquer discriminação. Proteja-se a si e aos outros, mas dê-lhes também apoio, principalmente aos mais necessitados e aos que não se podem deslocar.

Evite ler, ouvir ou ver notícias que o deixem ansioso ou angustiado. Por estes dias têm sido partilhadas inúmeras informações falsas e alarmistas que não ajudam as autoridades e que espalham o medo e o pânico entre as pessoas. Não partilhe informações que não estejam confirmadas e não confie nos meios de comunicação social que reiteradamente fomentam notícias com base em rumores não confirmados.

Procure apenas informação para se proteger a si e aos seus. A constante atualização noticiosa e a atenção mediática podem criar preocupação em qualquer pessoa, pelo que se aconselha a uma recolha de informação em intervalos maiores e através de fontes oficiais, como a Organização Mundial de Saúde, a Direção-Geral da Saúde ou os comunicados dos órgãos oficiais – o que permitirá evitar ler rumores e ter apenas os factos oficiais.

Partilhe histórias positivas. As histórias positivas e o trabalho de quem ajuda diariamente as pessoas afetadas pela COVID-19 devem ser reconhecidas e partilhadas. É importante noticiar que já há milhares de casos tratados com sucesso em todo o mundo.

É normal que os profissionais de saúde também se sintam stressados com esta situação. Isto não significa que não consigam fazer o seu trabalho ou que sejam fracos. Durante este período é fundamental gerir o stress e o bem-estar psicossocial, bem como a saúde física – pelo bem dos profissionais e também dos pacientes.

A difusão de mensagens simples e claras é fulcral na relação entre os profissionais de saúde e a sociedade. Nesta fase crítica, a comunicação com a comunidade é importante para esclarecer e disseminar boas práticas no controlo do contágio. É fundamental que não se divulguem informações não confirmadas e/ou não oficiais. É também crucial que os grupos que reúnem profissionais no Facebook, Whatsapp e em outras plataformas sejam efetivamente locais de entreajuda no esclarecimento de dúvidas de forma racional.

As crianças não devem ser esquecidas. Além das boas práticas recomendadas para todos, é importante encontrar formas positivas de expressão de sentimentos como o medo ou a tristeza. Atividades criativas como desenhar ou jogos com a família mais próxima podem facilitar a comunicação entre pais e filhos e criar um ambiente seguro. Nesta situação é provável que as crianças exijam maior atenção da família, pelo que deve ser-lhes explicado o que devem fazer e ensinar boas práticas para reduzir a transmissão da doença, bem como explicar os seus sintomas.

A manutenção das rotinas familiares é importante, especialmente se as crianças estiverem confinadas a casa. Mesmo com todas as restrições de contacto social, importa promover interação com outras pessoas através de chamada telefónica ou de aplicações online.

As pessoas em isolamento devem manter os seus contactos sociais, seja online ou por telemóvel. Mesmo nesta situação, as pessoas devem manter a sua rotina, como horários de acordar ou de refeições. Comer de forma saudável e fazer exercício físico dentro dos constrangimentos recomendados pelas autoridades de saúde também são importantes nestes períodos de stress.

As situações de ansiedade e stress, em momentos como o que vivemos atualmente, são normais – é preciso coloca-las em perspetiva. As autoridades de saúde pública e os especialistas em todo o mundo estão a trabalhar para assegurar a disponibilidade dos melhores cuidados de saúde para todos os afetados.

No fim da pandemia, sairemos desta crise mais fortes e com um enorme capital de aprendizagem coletiva para o futuro.

Texto de Pedro Morgado e Tiago Ramalho
(publicado no Expresso em 13/03/2020)